Floresta com Araucária, quase extinta


Restaram somente cerca de 1% a 2% da cobertura original da Floresta com Araucária, que, no passado, cobriu grande parte do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, ainda, áreas menores na região da Mantiqueira – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Se não bastasse a percentagem chocante, é mais revoltante ainda descobrir que o estado do Paraná continua sendo, ainda hoje, o maior exportador de araucária do país. Realmente, não faz o menor sentido, principalmente quando se leva em conta que o belíssimo pinheiro do Paraná é um dos símbolos desse estado.

Não é de hoje que a floresta, que abriga essas espécies centenárias, quase milenares, vem sendo maltratada. A história é antiga. Entretanto, é preciso explicar a importância desse bioma para o ecossistema brasileiro.No Paraná, a Floresta com Araucárias chegou a cobrir 40% da superfície, em Santa Catarina 30% e Rio Grande do Sul 25%. Com seu imponente tronco e a copa voltada para o sol, a araucária levava beleza e biodiversidade para a região.

Acredita-se que a Floresta com Araucária começou a tomar forma no sul do Brasil após a última glaciação do planeta e atingiu o ápice há aproximadamente 2.200 anos. “. Inicialmente sendo mais predominante na região sudeste do país, com o aumento da umidade no sul, a floresta encontrou as condições perfeitas para se desenvolver plenamente. Uma araucária vive, em média, 700 anos, entretanto algumas podem chegar a mais de mil anos de vida.

Rica em biodiversidade, a floresta é formada por outras centenas de espécies vegetais e animais. Já foram identificadas nela mais de 1.500 espécies botânicas entre herbáceas, arbustivas e arbóreas, além de epífitas, musgos e fungos. “A floresta apresenta uma fauna exuberante, característica do sul do Brasil, podendo-se encontrar tucanos, gaviões, lobos-guarás, codornas, saracuras, emas. Infelizmente com a devastação das florestas, alguns desses animais entraram em extinção”, afirma Savi.

Foi nas primeiras décadas do século XX que a maior floresta do sul do Brasil começou a ser destruída. Para trazer abaixo essa vegetação secular foi usado, num primeiro momento, o fogo e, em seguida, o machado. Vergonhosamente, o Brasil se tornou o maior exportador mundial de araucária, utilizada, principalmente durante o período da Segunda Guerra, pela indústria siderúrgica e aeronáutica, já que a madeira brasileira era leve e fácil de ser trabalhada.

Com a derrubada das araucárias, veio a erosão, o empobrecimento do solo, a mudança no clima da região e no regime hídrico, além obviamente, de uma alteração estúpida – em todos os sentidos, da paisagem natural.
“À beira da extinção, temos pouco tempo e uma última chance de reagir para que esta floresta sobreviva ao século XXI e a araucária – fóssil vivo, que avançou sobre a Terra por 250 milhões de anos – não desapareça...”. É dessa maneira tocante, logo na introdução do livro Araucária – A Floresta do Brasil Meridional – lançado neste mês pela Editora Olhar Brasileiro (Leia a reportagem Floresta Araucária é tema de livro ) – que Zig Koch e a mulher e jornalista, Maria Celeste Corrêa fazem um apelo pela salvação da floresta.

Dois apaixonados pela natureza, Zig mostra através de belíssimas imagens a força da araucária, Maria Celeste traça um texto conclusivo sobre a tragédia que se abate sobre esse importante ecossistema do sul do país. “Infelizmente, não é só a floresta que está morrendo. Quando um papagaio voa quilômetros e mais quilômetros para encontrar o alimento que deveria estar na floresta, e não o encontra, ele acaba morrendo porque não tem mais forças para fazer o caminho de volta”, conta a jornalista.

O livro mostra, ainda, que a extração da madeira, as queimadas, a substituição da flora original pelo plantio de exóticas, a pressão urbana e a ocupação de terras por movimentos sociais são os verdadeiros assassinos da Floresta com Araucária. “Nascentes de água secaram porque a mata foi cortada. E quando uma árvore é derrubada, toda aquela água que ela continha vai para a atmosfera de maneira desequilibrada. É por isso que temos nevascas e tempestades desproporcionais, calor ou frio intensos”, explica Koch. O mateiro, que vive da floresta, e o fotógrafo, que busca a sobrevivência dela, chegam a uma mesma conclusão. É hora de dar um basta.

E o que está sendo feito para reverter essa situação? Infelizmente, muito pouco. Em 2005, o governo federal criou seis áreas de proteção à Floresta com Araucária nos estados do Paraná e Santa Catarina. Até hoje, não houve desapropriações, já que o governo não indenizou as famílias que deveriam deixar essas terras. “O governo é omisso!”, critica Mauricio Savi. E o ambientalista vai mais longe. “São gerações e gerações de famílias destruindo a mata. Primeiro foram os avôs, depois os filhos e agora os netos. Gente que continua derrubando árvores. Muitos políticos estão intimamente ligados a esse negócio e não fazem absolutamente nada para mudar a situação”.

O livro revela: “À exceção das áreas derrubadas com finalidade agrícola, as outras vêm sofrendo o corte seletivo da madeira, no qual são derrubadas apenas as árvores mais frondosas – e que alcançam maior valor no mercado clandestino. As toras são retiradas por estradinhas secundárias, muitas vezes à noite ou nos finais de semana, para tentar driblar a fiscalização”.

Enquanto a ineficácia das políticas públicas só aumenta a dor da floresta, algumas iniciativas isoladas de organizações não-governamentais tentam minimizar o problema. Um desses exemplos é o do Programa Florar, criado pelo Instituto Agroflorestal Bernardo Hakvoort (IAF), que conta com o apoio ONG The Nature Conservancy (TNC)*. Fazem parte do programa 170 produtores rurais do município paranaense de Turvo, que decidiram investir na exploração sustentável de produtos não madeiráveis.

A beleza das fotos de Zig Koch e o alerta do texto de Maria Celeste Corrêa também foram transformados em uma exposição com 44 paineis. As imagens do fotógrafo foram doadas para a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e farão parte de mostra itinerante que a instituição organizará em 2011.

Juntos, jornalista e fotógrafo, marido e mulher, querem se tornar pequenos agentes de mudança. “Temos que usar nosso conhecimento. Queremos que o livro toque as pessoas para que haja uma mudança de comportamento. A gente já destruiu uma floresta, vamos destruir outras? Precisamos dar uma chance à natureza para que ela possa manter nosso planeta vivo”, diz Koch.

*The Nature Conservancy (TNC)

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